O antigo testamento é sempre o alvo mais procurado, pelo simples motivo de conter várias passagens épicas. E é desse conjunto de 46 livros que saem Noé e Moisés, os novos/velhos rostos dessa incursão do livro sagrado pelo cinema.
Claro que o peso dos personagens exigia diretores consagrados para recontar suas histórias e coube a Darren Aronofsky e Ridley Scott a missão de comandar os épicos. Mudanças obviamente seriam feitas, mas ninguém imaginava que ao fim dos dois filmes, veríamos personagens tão parecidos e ao mesmo tempo tão diferentes em suas visões do mundo e principalmente de Deus.
Darren Aronofsky talvez tenha ficado com a missão mais indigesta, afinal a história de Noé é importante, porém curta demais. O que fazer nesse caso? Ora, use como material fonte sua própria HQ, repleta de elementos que deixarão os religiosos mais fervorosos muito incomodados, e nesse caso, muito é uma forma suave de falar. Detalhes nunca antes imaginados, ou talvez abafados pelo clamor religioso, vieram à tona.
E Noé (vivido pelo eterno gladiador Russell Crowe) ganhou uma personalidade forte, porém, certamente diferente da que tínhamos em mente. Em tempos de guerras inúteis que tem a religião como pano de fundo, é interessante ver que a fé cega e sem questionamentos não é de fato o melhor caminho a seguir.
Noé não é o melhor trabalho de Aronofsky, mas é importante por mostrar que é possível arriscar, quebrar paradigmas e ignorar a opinião que muitas vezes é antiquada.
Do outro lado dessa moeda, está Êxodo: Deuses e Reis, mais uma versão cinematográfica da clássica história de Moisés. O longa é comandado por Ridley Scott, o cara certo quando o assunto é cenas de batalha e personagens de personalidade forte.
Com um visual muito mais épico do que o mostrado em Noé, Ridley usa e abusa da versão militarizada do personagem. Christian Bale vira literalmente o general de Deus, com a missão de livrar os hebreus da escravidão. A princípio, o derramamento de sangue parece ser o único caminho e Moisés possui todas as habilidades para ensinar e comandar seu povo no campo de batalha.
Outro aspecto importante é essa relutância de Moisés em aceitar os hebreus como seu povo. Mesmo quando lutam lado a lado, fica claro que ele não acredita muito naquilo e que, principalmente, ele não acredita muito em Deus. Esse é o enorme ponto positivo do filme. A descrença inicial e a disputa de pensamentos e opiniões entre o comandado e o comandante. Moisés é o oposto de Noé. É quem questiona, nega e desafia.
Se Deus é muito mais contemplativo em Noé, ele é físico e muito mais reativo em Êxodo. Se seu general falha, ele vai a luta e usa as pragas do Egito como prova de força, fúria e até mesmo vingança. Características presentes nos livros do antigo testamento.
A exemplo do que acontece com Darren, esse não é o melhor trabalho de Ridley Scott. Mudanças foram feitas para prestigiar as batalhas e os efeitos especiais. Afinal, não deixa de ser um filme pipocão, ou blockbuster para os mais cultos.
As histórias originais sofreram mudanças, ganharam tons mais épicos e comerciais. Podem não ser ótimos filmes, mas funcionam muito bem para o propósito que foram criados: suprir carências criativas. E se você é um religioso ou um profundo conhecedor da Bíblia, não precisa perder a cabeça. Não enxergue tais filmes como profanos e tudo mais, são apenas películas para um novo público. O tempo passa e muda certas coisas, até mesmo aquelas que pareciam imutáveis.
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